Três Tambores: Mulheres da região se destacam em provas com cavalo
Aline Tavares e Nanachara Souza. Apaixonadas por cavalos atualmente representam a região em importantes competições
Foto divulgação - Arquivo Pessoal
ESPORTE PRESS BRASIL - Por Daniela Bairros
Certamente você que gosta de assistir a rodeios nas cidades da região já deve ter visto mulheres competindo nas chamadas prova de Três Tambores e Seis Balizas.
O Três Tambores é uma prova de rodeio que traz charme e elegância para dentro da arena, pois é a única que tem uma grande participação feminina. Esta prova combina a habilidade técnica do cavalo e do cavaleiro para contornar os três tambores, em um percurso triangular preestabelecido, no menor tempo possível.
A modalidade Três Tambores é dividida em categorias, sendo elas: kids, jovem, amador, iniciantes, aberta e profissional.
A prova de Seis Balizas trata-se de um esporte de velocidade, agilidade e destreza na condução do cavalo. O percurso consiste na colocação de seis balizas dispostas em sequências, com distância de 6,5 metros uma da outra.
A modalidade de Três Tambores tem sua origem nos Estados Unidos e foi introduzida no Brasil no início da década de 70, período da vinda do cavalo Quarto de Milha para o Brasil. Nesta época, começaram os primeiros campeonatos na região de Presidente Prudente (interior de São Paulo) e Bauru, também no Estado de São Paulo, que difundiram a modalidade.
A prova de Seis Balizas possui sua origem semelhante a modalidade de três tambores, como a mesma finalidade de entretenimento, fazendo parte das apresentações em rodeios. No Brasil, esse esporte é regulamentado pela National Barrel Horse Association of Brazil (NBHA) e também faz parte de eventos como o rodeio.
Na nossa região, tem sido crescente a atuação de mulheres na modalidade Três Tambores. Algumas praticantes por hobby e outras atletas, participando até de importantes competições, a níveis estadual e nacional. É o caso das cunhadas Aline Tavares e Nanachara Souza. Ambas estarão, a partir desta sexta-feira (16), competindo na 1ª Etapa XXXVII Campeonato Estadual RJQM Tambor e Baliza, em Casimiro de Abreu.
Quem são Aline Tavares e Nanachara Souza competidoras de Três Tambores
Natural do município de Conceição de Macabu, mas atualmente morando em Macaé, Aline Tavares tem 28 anos de idade. Casada e mãe de um filho de três anos de idade. Apesar de participar de pequenas competições municipais de três tambores, Aline se destaca nas provas. Ela começou a correr (com cavalos) entre os 14/15 anos, e aos 21 anos, já encarava as provas nas competições. Aline já competiu em importantes provas, como Campeonato Estadual do Rio de Janeiro; em Minas Gerais; São Paulo e Espírito Santo.
Aline Tavares começou a praticar a modalidade ainda na adolescência - Foto divulgação ( Arquivo Pessoal)
Aline Tavares
Aline Tavares é atleta de competição de Três Tambores. É formada em Química e trabalha em uma empresa do ramo offshore em Rio das Ostras (Baixada Litorânea). Ela conta que o cavalo sempre foi uma paixão, que nasceu na infância. “Eu amo cavalo desde que me entendo por gente. Essa paixão nasceu por causa do meu pai, que tirava leite do gado que ele tinha. Meu contato com cavalo começou quando eu ia para lida de gado na fazenda e em sítios”. Logo depois, Aline começou a conhecer o esporte Três Tambores. Ela lembra do Campeonato Macabu Quatro Patas, uma competição pequena, mas que deu o ponta pé inicial para Aline. “Foi o primeiro lugar que eu comecei a competir, nos meus 13 anos de idade. E tudo começou com uma simples brincadeira, por diversão. Nesta época, meu pai comprou um cavalo para mim e que nem documentação tinha. E agora, nos dias atuais, eu participo de competições em cavalos Quarto de Milha. Os animais são regulamentados pelo Núcleo Quartista da Associação Brasileira de Quarto de Milha (ABQM), pois eu só posso competir nessa prova estadual do Rio de Janeiro se eu tiver um cavalo regulamentado pela associação”.
De Macabu para Quissamã, Aline Tavares também participou de competições com a equipe chamada Voando Baixo. “Dai então comecei a gostar do esporte. O que era amor pelo cavalo, se transformou também em amor pelo esporte três tambores. Eu também competi nas provas Seis Balizas, em Conceição de Macabu, mas não segui com afinco, com amor, com paixão, como nos três tambores”.
O amor pelo três tambores levou Aline Tavares a querer falar mais a sério as competições. Foi ai então, que buscando a independência financeira, ela começou a trabalhar e a ganhar o próprio dinheiro. Começou a investir para participar de competições em outros estados brasileiros, como campeonatos estaduais do Rio de Janeiro; Espírito Santo; no Ycambi em Minas Gerais e algumas provas em competições paulistas.
Segundo Aline, os três tambores viraram uma grande paixão desde quando começou. Ela amava sim o cavalo. Mas o amor falou mais alto pelo esporte de velocidade com cavalos de alta performance. “São competições que estão se tornando, cada vez mais, em níveis elevados, de profissionalismo muito grande. Relembrando o passado quando comecei, eu consigo constatar o qual profissional e evoluído estão esse esporte, tanto no Estado, quanto na nossa região. Há uns oito, nove anos atrás, nós tínhamos somente um campeonato regido pelo Núcleo de Cavalos Quarto de Milha. E atualmente temos vários campeonatos, entre eles, interestaduais, intermunicipais, no interior do Estado também. Eu fico muito feliz em ver essa evolução, não somente das raças dos cavalos, mas do esporte, principalmente aqui na região”, salientou Aline.
Desmistificando de que a modalidade Três Tambores era somente praticada por homens e de que hoje as mulheres que competem sofrem discriminação ou preconceito por parte do público masculino, Aline afirma que nunca teve problemas quanto a isso. “Noventa por cento dos atletas ou profissionais da modalidade são homens. Mas não nos discriminam. Pelo contrário, nos ajudam muito. Estão sempre disponíveis. Não medem capacidade e esforço para nos auxiliar. Eu nunca senti e sem sofri nenhum tipo de preconceito ou julgamento por ser mulher e praticante da modalidade três tambores”.
Mãe e filho - Foto divulgação (arquivo Pessoal)
O amor pelo esporte já reina entre a família. O marido e o filho de Aline Tavares já praticam a modalidade, também por hobby. “Meu marido já participou de competições de várias modalidades de laços, como laço campista, de bezerros, roping. É também uma atleta. E o nosso pequeno que também está começando a competir nos três tambores. Já participou de provas puxadas, ou seja, junto comigo. E sempre incentivo para que ele continue a atuar na modalidade, que a gente gosta tanto. E que vai ajudar muito ele a amadurecer, até mesmo a lhe dar com emoções, frustrações e ajudar a atingir as metas que ele tanto almejar. Eu acho isso muito importante, porque é um meio muito familiar.
Aline Tavares - Imagens arquivo pessoal / Edição EPB
Nanachara Souza - Foto divulgação (Arquivo Pessoal)
Nanachara Souza
Cunhada de Aline Tavares, a macaense Nanachara Souza, hoje com 32 anos de idade, começou a correr aos 21 anos. O primeiro contato de Nanachara com o cavalo Quarto de Milha foi quando conheceu o então namorado e hoje esposo, Adriano Tavares, treinador de cavalos, em Volta Redonda, e atualmente competidor da prova de laço Team Roping. Mas quando o conheceu, segundo Nanachara, ele competia em provas conhecidas como Laço Campista, também muito comum na região.
Já no primeiro encontro com o então namorado, Nanachara foi em uma pista de laço campista. Foi amor à primeira vista. No local, conheceu meninas praticantes dos três tambores. “Elas competiam na época e me falaram muito sobre a modalidade, mas eu não conhecia nada. Por curiosidade, fui em um treino. Achei muito interessante e surgiu a vontade de aprender, mas confesso que eu achei que não daria conta”. Nesse meio tempo, Nanacha Souza comprou um cavalo e os apetrechos necessários, entre elas, a sela.
Nanachara começou a treinar aos 21 anos de idade, o que para ela, é um pouco tarde. “Digo isso porque tem muita gente que começou muito antes, na infância mesmo. Mas, apesar de eu achar que comecei tarde, não tem idade para começar os treinos. Comecei a treinar depois de comprar meu cavalo”, explicou.
Nanachara Souza - Foto divulgação (Arquivo Pessoal)
Há cerca de 10 anos, Nanachara é competidora também de Três Tambores. Em sua trajetória na modalidade, já teve inúmeros cavalos e, ainda de acordo com ela, cada um com seus méritos, mas atualmente, está com a égua Special (especial em inglês) e há três meses já percebeu grandes evoluções com o animal. “Já conquistei vários prêmios com a égua Special porque é muito fiel. Ao longo da minha trajetória na modalidade, eu tive vários animais. Eu costumo dizer que usufruímos dele, mas com o passar do tempo, somos obrigadas a trocar porque temos que evoluir, ou seja, à medida que o cavaleiro evolui, temos que evoluir com o animal, chegando a um ponto que o cavalo não fica mais apto a nossa categoria”. Recentemente, Nanachara participou de uma competição em Minas Gerais, onde participou de provas com meninas do Espírito Santo, Minas Gerais, estado do Rio de Janeiro e Bahia. A competição mineira, Ycambi Ranch, é uma das maiores do estado de Minas.
Nanachara explica ainda que a sintonia do competidor ou atleta tem que estar unida a do animal. Por incrível que pareça, segundo ela, é necessário que ambos ‘pensem’ juntos. Entre suas dificuldades, conforme classifica Nanachara, foi justamente encontrar um animal que tivesse essa sintonia. Mas, felizmente, encontrou a égua Special. “Criamos um vínculo, uma sintonia muito interessante. Porque eu cheguei a desistir dos Três Tambores por eu não ter encontrado, de fato, um animal que eu conseguisse ter essa sintonia. Mas como Deus é maravilhoso e está presente em todos os momentos da minha vida, e quando eu falei chega, não quero mais, apareceu a égua Special e ela faz e conquista junto comigo. Estamos conseguindo fazer muito, o que eu estava esperando há muito tempo. De realmente entrar em pista e competir. Ela realmente é especial para mim. Hoje consigo competir de igual para igual”.
Atualmente, Nanachara corre somente na modalidade Três Tambores, mas já fez provas Seis Balizas.
Nanachara treina no Centro de Treinamento Douglas Félix, localizado no bairro Vale dos Cristais, em Macaé. Os animais que treinam no local junto com os atletas, sejam eles competidores profissionais ou no caso de Nanachara Souza, praticante dos Três Tambores, por hobby, recebem muitos cuidados por meio de uma equipe muito bem preparada, o que ainda de acordo com ela, desmistifica de que os animais sofrem maus tratos, principalmente os que participam de rodeios. “Todos os animais lá do centro de treinamento são muito bem cuidados. “Nos rodeios, por exemplo, nós não usamos mais acessórios, como a espora e o reio. E com isso, é importante que as pessoas entendam que nós não maltratamos os animais, no caso, os cavalos. Não queremos, jamais, machucar os animais, que são tratados como se fossem nossos filhos. E como nós mulheres somos muito vaidosas, os nossos animais também. Mas, além disso, nos preocupamos com a nossa segurança e a do animal. A minha égua, por exemplo, usa liga, caneleira e croche nas patas, que se por acaso, batem uma na outra, esses acessórios evitam que o animal se machuque e até mesmo sofra fraturas”.
Nanachara explica ainda que dentre os procedimentos para oferecer o bem-estar ao animal, estão sessões de nebulizações. “São inúmeros procedimentos executados nos nossos animais. Caso estejam com dores, temos médicos veterinários no centro de treinamento que cuidam dos animais, além dos treinadores e equipe de apoio”.
Quando pensou em desistir de continuar a competir nos três tambores, Nanachara começou a estudar e neste ano se forma em Direito. Segundo ela, durante a trajetória na modalidade, parou durante quatro anos. Nesse tempo, resolveu estudar. Antes de decidir parar, Nanachara possui uma égua, mas resolveu vender e adquiriu um animal mais veloz. Mas ela confessa total arrependimento, mas atualmente, se encontra com outra competidora, que é muito bem cuidada. Isso acalenta o coração de Nanachara. “Realmente são escolhas que fazemos. Nesse período que parei, uns quatro para cinco anos, preferi esperar o tempo ideal para o meu retorno. Nesse tempo, resolvi estudar e trocar de profissão. Neste ano, me formo em direito. Com o meu trabalho, meus planos de retornar foram antecipados para justamente arcar com as despesas”.
A modalidade Três Tambores na região
Para Nanachara Souza, o cavalo é um ser que transmite muita paz para as pessoas de um modo geral e para os competidores. E, segundo ela, as mulheres da região são apaixonadas por eles. Mas a maioria das mulheres, na avaliação de Nanachara, no início, ficavam inibidas em montar nos cavalos. “Ficavam inibidas, com vergonha mesmo de competir com pessoas que já estão há um tempo na trajetória, como eu e outras mulheres de Macaé, mas quando começaram a ver as coisas podem ser diferentes, que devemos sim lutar pelos nossos sonhos, que a cada dia a gente pode acreditar nos nossos sonhos, que uma hora vão se tornar realidade. As mulheres de Macaé gostam muito da modalidade, começaram a investir e ter contato com o cavalo, com o treinamento, com a modalidade mesmo. E a cada dia, aparecem novas competidoras. Isso é de fato muito gratificante e me traz felicidade, porque o início realmente é difícil. Como tudo o que começa. Acolhemos sempre, com palavras positivas, as competidoras mais novas, incentivamos mesmo. Isso é muito importante. Porque sabemos que pode dar certo sim, mas também sabemos que podemos nos frustrar, mas isso não é o que queremos. Porque não será todo dia que vamos ganhar, que vamos ter premiações. Porque é preciso que elas entendam que o cavalo vai muito além de competição. Tem que amar, tem que cuidar. Competição e premiação são consequências”.
Laço Campista e Três Tambores passou de mãe para filhos e de pais para filhos
É certo que toda filha imita a mãe em tudo. É a mais pura verdade até mesmo na modalidade Três Tambores. O amor pela competição, pela modalidade e também pelos animais, já estão entre os familiares de Nanachara, principalmente entre os filhos.
Os dois filhos de Nanachara, Aloisio Neto, de 10 anos, e Pedro Lucas Souza, de 12, praticam o Laço Campista. Já a filha Maria Clara Souza Tavares, de 7 anos, quer ser tamborzeira como a mãe. Atualmente, a pequena também treina no Centro de Treinamento Douglas Félix, com um cavalo da escolinha, mas aguarda e com ansiedade, a chegada do cavalo próprio. Como toda mãe, Nanachara não esconde o orgulho e a felicidade dos filhos também gostarem das modalidades. “Eu fico toda boba (risos). Ela em breve vai treinar com um animal totalmente dócil e vai também para as competições. Isso realmente é demais. Por isso que sempre falo que quando nossos filhos convivem com cavalos, seja treinando ou não, é um dos métodos de criação, na minha opinião, ideal para eles”.
Maria Clara - Foto divulgação (Arquivo pessoal)
Assim como a mãe, Maria Clara também tem muito amor pelos animais. Ela gosta tanto, que chega a chorar para ir aos treinos. Ela adora dar biscoito aos animais, cenoura e rapadura aos animais. É como se ela tivesse um cachorro grande”, conta Nanachara Souza.
O Laço Campista, segundo Nanachara, é muito praticado na região. A modalidade de competição surgiu a partir da atividade campeira de lida com o gado criado solto e extensivamente no ambiente de restinga da baixada campista, no Norte Fluminense, mais precisamente no município de Campos dos Goytacazes.
A prova é realizada com um laço confeccionado com couro, com 18 a 20 metros de comprimento e em uma das pontas possui uma argola, na outra uma presilha. O cavaleiro fica com seu animal no brete à espera do boi. Assim como nas outras modalidades, o cavalo não pode sair antes que o gado, para não sofrer penalização.
Os dois filhos de Nanachara estão há um ano firmes no Laço Campista. E já no currículo, possuem premiações. “Meu marido também laça e eu como mãe acabei incentivando os meus dois filhos. É muito gratificante, sem dúvidas. Esse meio, de mexer com cavalos, de conviver, de treinar, é um meio muito bom para criar os filhos, porque é um ambiente familiar. Eu sempre incentivo e vou continuar incentivando muito os três. No caso dos meus filhos, que hoje estão no laço, se por acaso quiserem mudar de modalidade, partindo para o tambor, com certeza vou apoiar, se quiserem voltar para o laço, incentivo também. Eu sou aquela mãe que carrega os três para todos os lados que eu vou”.
Nanachara Souza - Imagens arquivo pessoal / Edição EPB