Casa dos grandes antes da Copa 2014, Moacyrzão está abandonado e caindo
Sem laudo de engenharia, local não pode receber partidas oficiais. Prefeitura não responde questionamentos do Portal Esporte Press Brasil
IRRECONHECÍVEL: Sem a cobertura de um dos lances de arquibancada, Moacyrzão sofre com o abandono (Fotos: Tiago Ferreira)
TIAGO FERREIRA / ESPORTE PRESS BRASIL
MATÉRIA ESPECIAL
Reinaugurado em agosto de 2010 e palco de jogos inclusive da Série A do Brasileiro, enquanto o Maracanã era reformado para a Copa do Mundo de 2014, o Estádio Municipal Cláudio Moacyr de Azevedo, mais conhecido como Moacyrzão, vive completo estado de abandono pelo Poder Público. Além disso, o espaço está impedido, de acordo com a legislação, de receber partidas de competições profissionais, já que o Laudo de Verificação de Engenharia (LVE) está vencido desde o dia 5 de maio. O da Vigilância Sanitária, por exemplo, vence no próximo dia 2 de agosto.
Em meados de junho, a reportagem do Esporte Press Brasil esteve no Moacyrzão e pôde ver de perto o descaso da municipalidade com o equipamento público. O estádio como é hoje foi entregue à população há quase 9 anos e, desde então, nunca passou por uma manutenção adequada. Em ações pontuais, o local recebeu algumas obras de maquiagem, na tentativa de recuperar parte do alambrado e da estrutura metálica da cobertura das arquibancadas. Tudo em vão, pois os problemas se agravaram e atualmente a maior parte dos espaços internos do Moacyrzão está interditada pela Defesa Civil.
PROBLEMA ANTIGO: Estruturas de ferro que sustentam os alambrados sofrem com a corrosão
Quem for ao Moacyrzão hoje verá um espaço completamente diferente do que a torcida sempre se acostumou. A cobertura (telhado e estrutura metálica) da arquibancada que fica às margens da Rodovia Amaral Peixoto foi totalmente retirada e colocada sob o lance de arquibancada que está ao lado do canal Macaé-Campos. Agora descoberto, esse espaço é o único apto a receber os torcedores nos jogos do Campeonato Macaense Amador e os pais dos alunos que participam de projetos sociais no estádio.
Por outro lado, os outros dois lances de arquibancadas (o que margeia o canal Macaé-Campos e o que fica atrás do gol da Barra) estão interditados, visto que a estrutura metálica da cobertura está completamente corroída e ameaça desabar. Isso sem contar as calhas d’água quebradas, telhas soltas e a estrutura oxidada que dá sustentação às cabines de rádio e TV.
Estrutura da cobertura retirada está abandonada sob a arquibancada que margeia o canal Macaé-Campos
Mas os problemas não param por aí. Os alambrados, que já tiveram uma tentativa de reforma em 2018, novamente estão com a sua base de suporte totalmente deterioradas pela corrosão. Locais onde ainda foram mantidos os acrílicos do alambrado do projeto inicial do estádio, hoje grande parte deste material está quebrado. Nos espaços onde o acrílico foi substituído por telas, já há grandes buracos no alambrado.
Nos bancos de reserva, a maioria das poltronas está quebrada e a estrutura que as fixa no chão também está deteriorada pela corrosão, inclusive o inox que dá sustentação à cobertura desses bancos de reserva. As cadeiras azuis do antigo Maracanã, que foram colocadas ao lado dos bancos para atender à determinação da Fifa que permite que até 12 jogadores fiquem entre os reservas, também estão em situação caótica.
As coberturas sobre os outros dois lances de arquibancada sofrem com a falta de manutenção
Até então símbolo de orgulho dos torcedores macaenses, o gramado do Moacyrzão não é mais o mesmo. Não por culpa dos funcionários responsáveis por sua manutenção, mas sim dos atuais gestores, tanto da prefeitura quanto da secretaria de esportes. Além disso, o tapete que fica ao redor do gramado está danificado. Para piorar, em vários pontos as tampas pré-moldadas que ficam sob este tapete estão soltas e/ou quebradas, podendo provocar lesão séria aos que ainda podem praticar alguma atividade no estádio.
Saindo das quatro linhas, o acesso aos vestiários, tanto das equipes quanto da arbitragem, estão em péssima situação. No da arbitragem, que fica sob a arquibancada ao lado do canal Macaé-Campos, o túnel de acesso está com infiltrações nas paredes e com água “minando” do chão, estragando o assoalho de borracha, além de levar risco de escorregão por quem por ali passa. O quadro é idêntico ao túnel central, por onde as equipes acessam ao campo de jogo, que fica sob a arquibancada que margeia a RJ-106.
Entretanto, o panorama é deplorável nos túneis que dão acesso aos vestiários auxiliares, os que ficam nas extremidades do lance de arquibancada que fica ao lado da rodovia. Os locais estão com água na altura da canela, formando assim um local ideal para a proliferação de mosquitos, como o Aedes aegypti.
Túneis que dão acesso aos vestiários auxiliares do Moacyrzão estão com água na altura da canela
Nos vestiários, os problemas são mais fáceis de serem resolvidos. A porta do vestiário 2 está quebrada, e uma outra porta do mesmo vestiário, que dá acesso ao local onde os jogadores se preparam para os jogos, apresenta sinais de arrombamento. Os assoalhos de borracha de ambos os vestiários precisam de uma boa manutenção ou serem trocados por novos.
Estádio não recebe partida
oficial desde 20 de janeiro
Adquirido pelo município em 2007, após processo de desapropriação junto aos sócios-proprietários e beneméritos da extinta Associação Esportiva Macaé Barra Clube, o Estádio Cláudio Moacyr de Azevedo foi remodelado na gestão do prefeito Riverton Mussi. Ao todo, a Prefeitura de Macaé investiu cerca de R$ 21 milhões nas obras do novo Moacyrzão, que passou a ter capacidade para 16.000 torcedores.
As obras foram iniciadas em 2008, ano em que o Macaé Esporte Futebol Clube estreava na Série A do Campeonato Carioca, e só foram entregues em 5 de agosto de 2010. No dia seguinte, houve uma partida festiva entre o misto das seleções de 94 e 98 contra o Máster do Flamengo. Já o primeiro jogo oficial aconteceu no dia 7, quando o Macaé derrotou o Marília por 3 a 1, em duelo válido pela Série C do Campeonato Brasileiro.
A partir deste período, o Moacyrzão esteve habilitado a receber jogos dos grandes clubes do Rio de Janeiro e, após 2011, com o fechamento do Maracanã para as obras visando a Copa do Mundo de 2014, o estádio foi palco de grandes jogos, inclusive pela Série A do Brasileiro. Elogiado pelos grandes clubes do país, o Moacyrzão vivia o seu auge, mesmo com a dificuldade logística para se chegar à cidade, pois o Aeroporto de Macaé não é apto a receber aeronaves de grande porte.
Colocadas em alguns pontos do alambrado, em substituíção ao acrílico, telas já apresentam grandes buracos
Mas, a partir de 2013, já na gestão do atual prefeito Dr. Aluizio Júnior, o esporte passou a ficar em segundo plano na cidade. O Ginásio Maurício Bittencourt, outro importante equipamento público, entregue à população em 2004, foi abandonado pelos atuais gestores e está há vários anos sem receber eventos. Hoje, o local passa por reformas, no valor de quase R$ 7 milhões. A prefeitura estima entregar o espaço ainda este ano, mas pelo ritmo das obras, deverá ficar para o próximo ano, perto do período das eleições municipais.
O Moacyrzão está interditado pela Defesa Civil Municipal desde o final de janeiro deste ano. No dia 20 daquele mesmo mês, no seu último jogo oficial, o estádio ganhou repercussão nacional, só que de forma negativa. Em duelo válido pela primeira rodada da Taça Guanabara, Cabofriense e Botafogo se enfrentavam e dois episódios fizeram o município interditar o estádio: o primeiro motivo foi a presença de insetos (acredita-se em marimbondos) em uma das traves e, o segundo, o incêndio em um dos refletores.
Abandono no arredor do gramado do Moacyrzão. Problemas podem causas graves lesões aos atletas
No dia 29 de janeiro, em nota publicada em seu site, a Prefeitura de Macaé anunciou obras de melhorias no estádio, principalmente com relação à manutenção das arquibancadas. Entretanto, a única ação feita foi a retirada da cobertura do lance de arquibancada que fica ao lado da rodovia. Sob a alegação do risco de queda da estrutura, o executivo afirmou à época que a maior preocupação era com os alunos da Escola Municipal de Educação Infantil Dr. Juventino da Silva Pacheco, que funciona sob esta arquibancada.
Com o estádio fechado, as duas equipes profissionais da cidade passaram a ser obrigadas a levar os seus jogos para Cardoso Moreira (a 150 km de Macaé). Ameaçado de rebaixamento, o Macaé teve que jogar o Grupo X do Campeonato Carioca no Estádio Antônio Ferreira de Medeiros. O Leão não venceu um jogo sequer no local (dois empates e uma derrota), mas escapou da queda porque conseguiu os pontos necessários na casa dos adversários. Situação idêntica vive o Serra Macaense, que desde o início de junho iniciou a sua disputa na Série B1 do Campeonato Carioca e manda os seus jogos em Cardoso Moreira.
Moacyrzão já apresenta
problemas há vários anos
A interdição atual do Moacyrzão não é a primeira desde a sua reinauguração. Constantemente, o local fica impedido de receber jogos por falta de laudos, como aconteceu entre 2017 e meados de 2018, quando havia a pendência do Laudo de Prevenção de Combate a Incêndio (LPCI). Em janeiro de 2018, por exemplo, dois incidentes, sem vítimas, ocorreram no Moacyrzão. Na época, parte da estrutura da cobertura caiu, o que impossibilitou a realização de alguns jogos.
Atualmente, o Moacyrzão segue interditado, sem um dos quatro laudos exigidos pela legislação e sem previsão de ser reaberto ao público, visto que não há nenhum processo de licitação já aprovado para que novas obras de remodelamento sejam feitas no estádio. Enquanto isso, sofre o sucateado esporte macaense, que hoje não tem um estádio e um ginásio com condições de receber grandes jogos. Quem perde? Somente a população!
Porta que dá acesso ao local onde os atletas de arrumam, do vestiário 2, apresenta sinais de arrombamento
Nota da Redação: O Portal Esporte Press Brasil enviou e-mail na última quarta-feira (dia 3) para a Secretaria de Comunicação Social da Prefeitura de Macaé com alguns questionamentos sobre as atuais condições estruturais do Moacyrzão e se há previsão de obras para o local, mas até o momento nenhuma resposta foi enviada. Reenviamos as perguntas nesta sexta-feira (dia 4) e não obtivemos sequer um retorno. Nós reiteramos o compromisso com o jornalismo sério e imparcial e o espaço segue aberto para os esclarecimentos por parte do Poder Executivo.
Confira mais fotos sobre as atuais condições do Moacyrzão:
http://www.esportepressbrasil.com.br/galeria.php?pg=1&cod=25