Surfando nas montanhas gelo

A Brasileira Nicole Silveira, treina forte em busca de vaga para representar o Brasil, nas Olímpiadas de Inverno de Pequim em 2022

imagem: arquivo pessoal

 

Da Redação do ESPORTE PRESS BRASIL

 

Nicole Silveira, gaúcha, enfermeira e atleta. A brasileira tem dividido seu tempo na linha de frente no combate a Covid 19 e a sua preparação para os Jogos Olímpicos de Inverno Pequim 2022. Mesmo em duas frentes bem distintas, Nicole vive a expectativa de se classificar e ser a primeira representante do Brasil nas provas de Skeleton.

Um esporte desconhecido entre maioria de habitantes de países tropicais, o Skeleton é um esporte olímpico de inverno criado na Suíça no final do século XIX e que fez parte das duas edições de Jogos Olímpicos de Inverno sediadas no país, em 1928 e 1948, antes de ser integrado ao programa dos Jogos a partir da edição de 2002.

A origem da modalidade está ligada à origem do bobsleigh, tanto que até hoje as duas modalidades são administradas pela mesma entidade, a Federação Internacional de Bobsleigh e de Tobogganing, criada em 1923. O skeleton começou a adquirir forma após a introdução, em 1892, de um novo tipo de trenó, feito de metal e mais adaptável ao formato do corpo humano.

As competições acontecem em uma pista de gelo, geralmente construída artificialmente, em que os pilotos descem deitados de bruços sobre o trenó, que não possui freios. Por questões de segurança, os atletas devem utilizar capacete, traje com mangas e calças longas e sapatos com pregos, para evitar escorregões durante a corrida de largada (os cinquenta primeiros metros da pista).

Todas as pistas homologadas pela FIBT estão localizadas no hemisfério norte. Além dos Jogos Olímpicos, as principais competições são o Campeonato Mundial da FIBT, realizado anualmente (exceto em anos olímpicos) e a Copa do Mundo, realizada em várias etapas (atualmente oito) em cidades diferentes. A quantidade de descidas que cada piloto faz pode variar de duas a quatro, de acordo com a importância do evento. Em todas, entretanto, o piloto que obtiver o menor tempo total é o vencedor.

 

Nicole Silveira participando de Prova de Skeleton - Arquivo Pessoal

 

Em entrevista ao canal de esportes GE Nicole disse:

- Acho que seria muito legal (poder competir nas Olímpiadas). Poder mostrar que é possível, porque eu sei que quando a gente fala: “Ah, eu sou do Brasil competindo no skeleton”, todo mundo ri e diz: “Como assim? Não tem como”. Eu espero que abra muitas portas para outros atletas verem que é possível. Vai ser uma honra se eu conseguir mesmo representar o Brasil numa Olímpiada e fazer história, já que nunca tivemos um atleta de skeleton a representar o país.

Morando no Canadá desde sete anos. A atleta sempre teve vocação para a prática de esportes, e essa ligação vem antes mesmo de se transferir para Calgary, no estado canadense de Alberta. As modalidades que mais receberam atenção foram: dança, futebol, ginástica olímpica, vôlei, rugby e até fisiculturismo.

O interesse pelos esportes de inverno começou através de um colega, que praticava bobsled, e perguntou se ela não gostaria de tentar, afinal a seleção brasileira feminina estava precisando de uma integrante para disputar a temporada pré-olímpica de PyeongChang, na Coreia do Sul, em 2018. Nicole embarcou de cabeça, entrou para a equipe e gostou.

 

Nicole Silveira - Arquivo pessoal

 

Na temporada seguinte resolveu de mudar para o skeleton, um esporte que, segundo a própria Nicole: "É tipo surfar de barriga numa água congelada". Os competidores deitam em trenós, que são pranchas com lâminas, e descem pistas cavadas em montanhas de gelo buscando sempre conseguir o melhor tempo. A velocidade pode chegar até os 135km/h.

 

Nicole Silveira - Copa do Mundo de Skeleton

 

Entre os títulos, a gaúcha conquistou dois campeonatos mundiais e, sua mais recente participação foi a Copa do Mundo da categoria, onde ficou em 18º lugar. A brasileira conta que a temporada 2020 serviu para seu desenvolvimento, já que não contou pontos para os rankings olímpicos, e que está feliz em poder ter a experiência de competir entre as melhores.

- Eu sou a mais inexperiente de todas que estão aqui (na Copa do Mundo), então eu fico muito feliz de estar nesse nível. Da para ver que eu não estou no nível das melhores do mundo ainda, mas estou muito feliz de estar nesse ambiente. É um ambiente que me puxa mais, me incentiva a fazer o meu melhor, mais do que se eu estivesse em um nível mais baixo. Eu estou aprendendo muitas coisas com elas, do jeito que elas fazem. Tem sido um ajuste enorme, mas um grande aprendizado também - disse a atleta, quando estava competindo no mês passado.

Mesmo com a rotina e a pratica de três anos descendo as pistas de gelo, Nicole revela que ainda sente um frio na barriga na hora da primeira descida em uma pista nova.

Dá medo, geralmente na primeira descida. Tu faz o máximo para se preparar, tem vídeo, aí você estuda a pista, visualiza, mas mesmo que tu ache que está mentalmente preparado, é sempre uma surpresa. Que dá medo dá. Eu converso com as melhores atletas e até elas ficam nervosas na primeira decida - brincou Nicole.

 

Nicole Silveira atuando como profissional de enfermagem - Arquivo Pessoal

 

Quando não esta se preparando para as provas, Nicole trabalha na função de enfermeira no combate à pandemia de Covid 19 no Canadá. O Declara que sente muito orgulhosa de sua profissão, mas, reconhece que a sua dedicação nessa atividade, acabou dificultou um pouco o planejamento que envolve os seus treinamentos visando as olimpíadas de inverno.

- Eu sou enfermeira, então tive que trabalhar em duas casas de idosos em uma área que estavam precisando por causa da pandemia. Foi difícil balancear o emprego com os treinos.

- Eu fico feliz por estar conseguindo descer (na pista). Muitos esportes foram completamente cancelados, e tem gente que não tá nem treinando. Eu sei que tem muitas atletas, que são de skeleton, que não estão conseguindo viajar e não estão tendo a oportunidade de descer na pista. Então eu fico feliz que estou conseguindo treinar e desenvolver.

A atleta afirma que o esporte tem um custo bem elevado, resultado do grande número de viagens e equipamentos. Afinal o Skeleton só poder ser praticado no inverno, e exige muito esforço organizar uma agenda que não prejudique o trabalho e o esporte profissional.

 

Nicole Silveira - Atleta de Skeleton - Arquivo Pessoal

 

Com tudo isso, Nicole segue se preparando e acredita que vai representar do Brasil no Skeleton nas Olímpiadas de Inverno de Pequim 2022 e entrar para a história do esporte brasileiro.

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